Quem Fica Olhando Muito Para Trás, Tem Um Grande Passado Pela Frente

Fonte da Ilustração: Openbuildings.com


A frase que dá título a este post, proferida pelo grande filósofo e professor Mario Sergio Cortella, deve servir de alerta a muitos de nossos prefeitos. 

A maioria deles ainda enxerga a atração de indústrias como o único caminho para o desenvolvimento de uma cidade. Esta visão, formada nos tempos em que fábrica era sinônimo de riqueza, tem feito com que novas oportunidades de crescimento, vinculadas a uma economia cada vez mais pujante, centrada no conhecimento, o mais valioso insumo dos nossos dias, não sejam devidamente estudadas, exploradas e aproveitadas.

O que os senhores prefeitos precisam descobrir, desde já, é que nos dias atuais há uma nova "estrada", ainda mal sinalizada, para cidades que almejam um papel de destaque na emergente sociedade do conhecimento. De antemão, asseguro que para chegar a ela não basta usar a velha e onerosa prática de atrair empresas. O sucesso para galgar essa nova "estrada" depende da atração de talentos, pessoas, gente que possa, com o seu capital intelectual, gerar novos modelos de negócio, produtos e serviços que conduzam o município a um ciclo sustentável de prosperidade.

Embora essa percepção seja ainda bastante tênue, a cada ano que passa cresce o número de cidades que procuram agências de desenvolvimento, órgãos de fomento ou instâncias semelhantes, para ajudá-las, quer na identificação de suas potencialidades, como na transformação dessas vantagens em um ambiente de negócios inovador que sirva de imã para as novas gerações,  as quais, além de possuírem mais familiaridade com as modernas tecnologias, trazem, dentro delas, sonhos, padrões de consumo, exigências socioambientais e visão de mundo bastante diversa das gerações que lhes antecederam.

Embora as grandes metrópoles sejam o “locus” natural para essa moçada, resta ainda um considerável espaço para cidades de menor porte que queiram se estruturar em torno do conhecimento e que ofereçam como bônus a disputadíssima qualidade de vida.

Os exemplos que temos observado de pavimentação e utilização dessa nova "estrada" que desemboca no desenvolvimento sustentável incorpora alguns mandamentos que até a alguns anos eram pouco considerados, mas que começam, agora, a ganhar destaque. 

Dentre esses mandamentos, aponto dez que me chamaram bastante a atenção:

1° Oferta de ampla e democrática rede de banda larga. Aí circula o conhecimento, digo a riqueza. Sem isso, não dá nem para começar.

2° Disponibilidade de uma estrutura educacional de classe mundial, centrada no uso de novos métodos de ensino e na oferta de disciplinas do mundo contemporâneo (turismo, gastronomia, artes, novas tecnologias, etc.).

3° Proliferação de ambientes públicos que estimulem a diversidade, a livre circulação de ideias, a inovação e as atividades colaborativas (oficinas, estúdios, etc.).

4° Predominância da área verde sobre a edificada, com a presença de parques, lagos, cursos d’água e outros recursos deste tipo.

5° Estímulo à vida saudável, expresso pela existência de extensas áreas de calçadões, ciclovias, quadras e demais facilidades públicas para prática de atividades esportivas.

6° Disponibilidade de uma nova geração de usinas centradas no aproveitamento de energia solar e/ou eólica, que diminuam de modo substantivo, os gastos nessa área.

7° Prioridade aos meios de transporte que privilegiem o uso da eletricidade ou outras formas de manejo energético, de modo a reduzir, de forma consistente, a emissão de gases nocivos à vida do planeta.

8° Existência de área central, downtown, e paço governamental, plenamente integrados à vida da cidade, que facilitem a entrega de serviços públicos e que promovam um balanço inteligente entre habitação, trabalho, lazer e cultura, com predomínio de distâncias caminháveis e  inexistência dos desconfortos da abominável hora do rush.

9° Valorização de atividades voluntárias e comunitárias, que despertem o sentimento de cidadania.

10° Disponibilidade de infraestrutura de proteção contra danos causados pela natureza, como chuvas e secas.

Para terminar, penso que cidades com este perfil sairão do papel muito antes do que se pensa.

Onde elas estarão? Em locais, nos quais os valores que elas expressam forem abraçados por toda a cidadania e patrocinados por prefeitos estadistas dispostos a olhar além do próprio mandato.

Para ajudá-los nesta empreitada, recomendo que leiam também essa outra postagem, na qual aponto algumas dicas para a construção dessa "estrada”. 



Avante, senhores prefeitos. O Brasil agradecerá.


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